quarta-feira, 8 de abril de 2009

Post-rock do Ceará

Fóssil: instrumental arretado

Crédito: Julia Braga e Rafael Villar/Divulgação

Por Silvio Luz

Na semana passada, apresentei uma novidade aqui: a banda cearense Fóssil, que desponta na cena musical de Fortaleza desde 2004 e participa de diversos festivais de música independente pelo país. O grupo é mais um (bom) representante da atual música instrumental brasileira, que vem ganhando, a cada dia, mais destaque. Nesta quarta (08/04), o Fóssil se apresenta no Studio SP, dentro da programação Apostas do projeto Cedo & Sentado.

Antes disso, confira entrevista com o guitarrista Eric Barbosa, sobre o surgimento da banda, cena musical de Fortaleza, inspirações e outros assuntos.

Como e quando a banda foi formada?

Eric Barbosa - O Fóssil foi formado há cinco anos como um projeto de pessoas que se conheciam e resolveram montar um grupo musical. Até então, não tínhamos nenhum tipo de definição sonora ou estilo musical pré-estabelecido em mente. Pensamos o seguinte: “vamos tocar e ver qual é”. Com isso, a coisa foi tomando forma e surgindo coisas interessantes. Juntamo-nos em um ensaio, apresentamos algumas idéias e aplicamos ali na hora o nosso DNA musical. Gravamos nosso primeiro álbum, Insônia, em 2006, mas o lançamento só ocorreu no ano passado. Ainda estamos trabalhando ele, pois o disco não teve um tratamento de divulgação merecido. Além disso, estamos trabalhando novas músicas em estúdios, shows e apresentações.

Fale um pouco sobre a cena musical independente cearense.

Eric Barbosa - Falar de um contexto geral da música que é feita no estado do Ceará é uma tarefa difícil de assumir. Existem grupos que trabalham com folclore, regional, rock, indie, eletrônica, chorinho, samba, música de câmara, música renascentista e uma infinidade de sons. Existem festivais de música, bons centros culturais, algumas casas de shows, pubs e produtores responsáveis pela movimentação musical na cidade, mas isso tudo não é compatível com a demanda geral de público - que é o grande problema em Fortaleza. Falta público consumidor, público frequentador, falta público em todas as esferas.

E em Fortaleza, o cenário é diferente?

Eric Barbosa - Fortaleza é muito rica em termos de produção musical, grupos de uma identidade e sonoridade ímpares que se destacam dentro dos seus campos de atuação. Da turma que gostamos, posso citar Obinatril, O Garfo, O Sonso, Meu Amigo Imaginarium, Terceiro Dan, Macula, Pet Morita, Duo Babylon Banzzai, Cinza Margô, O Bandido da Luz Negra, Encarne, O Jardim das Horas, Realejo X-tet, Mr. Spaceman, O George Belasco e o Cão Andaluz, Psycho Jazz, Cidadão Instigado, 2 bombs and coinshell, entre outros.

Qual é a principal inspiração da banda na hora de compor uma música?

Eric Barbosa - Compomos a partir das assimilações, experiências, observações e impressões musicais de cada um. Compor envolve certo trabalho de maturação de idéias, criar arranjos, criar uma estrutura musical sólida. O Daniel “Ajudante” Lima, nosso atual baixista, está sendo de uma importância fundamental no novo processo de composição, criando, experimentando e absorvendo outras vertentes musicais. Muitas vezes, as inspirações partem da natureza e do nosso convívio com cada integrante do Fóssil, pois somos grandes amigos e nos influenciamos muito um pelo outro.

Quais as maiores referências musicais e artísticas do grupo?

Eric Barbosa - Artisticamente falando a gente sempre teve certo interesse em misturar nossa música com artes visuais em geral. Ultimamente estamos tendo mais chances de fazer isso e está sendo muito bom para o desenvolvimento do nosso trabalho, unir e agregar diversas linguagens, como vídeos, fotografias, ilustrações etc. Dentro do grupo cada um possui sua verdade musical, envolvendo como referências filmes, discos, vídeos, documentários, contos, conversas em bares, impressões e observações de outros grupos e/ou artistas. Em geral, gostamos do Kind of Blue (Miles Davis), Coltrane (My Favorite Things), Pink Floyd, King Crimson e Pat Metheny.

Além do show no Studio SP nesta quarta, quais serão os próximos?

Eric Barbosa - O Studio SP é uma casa que sempre nos recebe muito bem e, por isso, iremos fazer uma mostra especial de canções do disco, canções inéditas, re-adaptações de músicas antigas e algumas novidades. Na página do nosso MySpace é possível conferir nossa agenda completa neste e nos próximos meses. Esta é a quinta vez que tocamos em São Paulo, e agora resolvemos ficar morando por aqui mesmo, por uma série de questões como demanda de shows e parcerias, além de um contrato para a venda do nosso repertório de música em formato digital com um selo londrino, chamado Curve Music.

Qual a sua opinião sobre o forró comercializado hoje no país, que não está mais restrito apenas ao Norte e Nordeste e invadiu as periferias de grandes cidades do Sudeste, como São Paulo, por exemplo?

Eric Barbosa - Da mesma como a axé music, a tchê-music, o sertanejo e o Calypso, este tipo de forró comercializado no país também assume sua fatia como produto de massa e conquistou também o grande eixo Rio-SP e também outros estados. Só não concordo que é uma coisa única e exclusivamente de periferia. Lá o advogado, o médico, o jornalista, o pedreiro, a manicure, o vigilante, o flanelinha, todo mundo curte e se emociona. Confesso que me causa um estranhamento passar por ruas aqui em São Paulo e ver camelôs, carros, padarias, bares com pessoas ouvindo e consumindo os mesmos grupos de forró que as pessoas de lá escutam. Hoje, a diversidade cultural é muito forte em todo buraco do mundo. É um movimento musical-comercial criado para assumir e ter aspirações de entrar no grande eixo. Este forró comercializado a que você se refere acontece por lá nos quatro cantos do estado: na praia, no carnaval, em emissoras de TV locais, bairros, cidades do interior, botecos, colégios, calouradas de faculdades, praças e bares. Não deixa de ser produto, não deixa de ser uma cultura, tem voz e há organização para manter isso por muito tempo. No entanto, eu particularmente não gosto. Cada qual na sua. Eles lá conquistando o país e a gente por aqui fazendo o que queremos fazer. Musicalmente não me diz nada.

Sofreram alguma resistência por fazer um som bem diferente do forró na terra natal?

Eric Barbosa - Resistência nós sofremos mais por parte das pessoas do nosso próprio meio musical, de alguns equipamentos culturais, produtores, pessoas que achavam meio estranho a música que fazíamos, instrumental, sem letra, com efeitos, meio nada a ver. Acho que na medida em que mostramos que, sim, era possível criar algo novo, inventivo e que mostrasse verdadeiramente o que queríamos fazer musicalmente, abriram-se possibilidades de mostrar novos formatos e novas sonoridades. Resistência ainda existe um pouco, mas seguimos nosso caminho.

Clique aqui para conferir algumas músicas da banda no MySpace.

Dia 08/04, às 21h.

Entrada franca.

Studio SP - Rua Augusta, 591; (11) 3129-7040; www.studiosp.org

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