quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Céu concorrida em Sampa

Ingressos para série de shows estão esgotados

Crédito: myspace.com/ceuambulante

Por Silvio Luz

Por onde passa, Céu leva uma multidão para seus shows. Nos próximos (02, 03 e 04/10), no Auditório Ibirapuera, em Sampa, não há mais ingressos disponíveis. O público, enlouquecido, fez questão de limpar as bilheterias da casa de show, para presenciar mais uma vez a suavidade e diversidade da música da cantora paulistana.

Nos shows, Maria do Céu Whitaker Poças vai apresentar as canções do seu mais recente disco, Vagorosa, lançado agora em 2009. Mas as canções do seu primeiro álbum, homônimo, lançado em 2005, não devem ficar de fora do repertório. Roda, Malemolência e Lenda são as canções mais pedidas pelos fãs.

Apesar de ser enquadrada no rótulo de MPB, Céu acha que ele restringe muito o trabalho do artista. "O rótulo da MPB ficou limitado. Ele é bem abrangente, afinal é música popular brasileira. E me considero isso. Quando vou fazer um som, me alimento do que gosto e, como muitos outros da minha geração, me alimento não só de coisas específicas. Gostamos de ouvir música da Jamaica, agora estou escutando música etíope. Não penso que [tipo de] música estou fazendo. Simplesmente faço um som", explica.

Dias 02 e 03/10 (sexta e sábado), às 21h; dia 04/10 (domingo), às 19h.

Ingressos esgotados.

Auditório Ibirapuera - Avenida Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 2 do Parque do Ibirapuera; (11) 3629-1014; www.auditorioibirapuera.com.br

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A revolução é agora!

Aos 4 anos, Quilombaque faz festa com grupos locais

Crédito: Divulgação

Por Silvio Luz

No último sábado (26/09), a Comunidade Cultural Quilombaque festejou seu 4º aniversário de muita luta e transformação de um bairro por meio da cultura e da arte. As manisfestações artísticas desenvolvidas conseguem atingir muita gente de forma dinâmica e sincera.

Antes da festa comemorativa na Praça Inácio Dias, foi realizada uma reunião em nossa sede com todos os grupos culturais de Perus e região, abrangendo Pirituba, Anhanguera, Taipas e Brasilândia, entre outros bairros, para discussão de um plano de desenvolvimento local para a região noroeste da cidade. Cerca de 50 pessoas abrilhantaram o encontro e disponibilizaram as suas forças e artes para somar com a Comunidade Cultural Quilombaque e o CEPODH, o que, no final da cadeia, só beneficia o nosso povo.

A festa na praça teve um gostinho de comunhão e percepção de sonhos alcançados. Comemorando 4 anos de muita correria e 75 anos do distrito de Perus, a Quilombaque reuniu os grupos locais e mandou ver na valorização de nossa própria produção cultural. O evento começou com o colevito Amigos da Sandice, que envolveu o público com poesias descontraídas e impactantes, e depois abriu espaço para o Grupo Pandora de Teatro, que contou um pouco da história do bairro na peça "A Revolta dos Perus". Destaque para o vídeo exibido no final da apresentação, com reflexão profunda sobre o fato do bairro sempre ser lembrado quando o poder público quer construir algum lixão na cidade.

Com discotecagens da Phone Raps, representada pelo DJ Xerxes Boy, a galera fez da praça uma grande pista de dança. O grupo Esquadrão Arte Capoeira, desta vez, não passou despercebido. Fez sua apresentação debaixo dos holofotes e recebeu a merecida atenção do público. Em seguida, o hip hop tomou conta da festa, com Original Rock e Cartel Central. Por fim, o grupo Refúgio, bloco de percussão da Quilombaque, fez sua batucada com muito samba-reggae, funk, baião e maracatu. A lua brilhava no céu, mostrando, de alguma forma, sua cumplicidade com o poder que pairava sobre Perus naquela noite, que vai ficar gravada na memória do povo por anos a fio.

A luta continua. Clique aqui para conferir o blog da Quilombaque e o cartaz do próximo evento, Na Rua - Hip Hop em Festa, que acontece neste sábado (03/10), a partir das 14h.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Entrevista - Juçara Marçal

"Sem cultura popular não temos futuro", diz cantora

Crédito: myspace.com/jucaramarcal

Por Silvio Luz

Além de cantora, Juçara Marçal é professora de canto e pesquisadora das diversas raízes brasileiras, traduzidas em sua música e em seu primeiro disco solo, Padê, lançado no ano passado, em parceria com o músico Kiko Dinucci. Ela também faz parte do grupo A Barca, que percorreu veredas e veredas do Nordeste pesquisando a fundo a diversidade desse país, que, em grande parte, está traduzida no disco Turista Aprendiz.

Na entrevista abaixo, Juçara bate um papo sincero e direto sobre cultura popular e riquezas brasileiras. "Sem valorizar a cultura popular nos tornamos sem graça, sem força, sem futuro", destaca. Confira:

Misturar o erudito com o popular, como faz A Barca, é uma forma de mostrar que tanto uma cultura quanto a outra é essencial para nossa música?

Juçara Marçal - Na verdade não sei se é exato dizer que misturamos erudito e popular. Talvez seja mais correto pensar que unimos o universo da música da cultura popular tradicional à nossa maneira de tocar, repleta de referências urbanas - que são, sim, eruditas, mas também jazzísticas, bossanovísticas, enfim... Traduzimos a visão de músicos brasileiros que, até o surgimento d'A Barca, trabalhavam no universo da chamada música popular brasileira, que é imenso. O essencial para nossa música? Puxa vida! Essencial é uma palavra tão forte! Acho que fundamental mesmo é essa riqueza da música que vem desses mil Brasis da cultura popular. E fundamental é tratar esse material com o respeito e a profundidade que ele merece. Fundamental ainda é você ter cada vez mais clareza do que te identifica como músico, e tratar com muita verdade essa identidade, uma descoberta diária de todo artista.

Como consegue transitar livremente e adequar a agenda própria com os grupos que você integra, além da atividade acadêmica como professora?

Juçara Marçal - Se há receita para isso, talvez ela já esteja acenada ali na primeira resposta: cuido de perceber e buscar diariamente o que me identifica como cantora, como professora e como participante desses grupos. Há uma linha mestra que perpassa todos esses trabalhos e é ela que possibilita o trânsito. Essa procura passa pela pesquisa das nossas manifestações populares - em todos os meus trabalhos esse mote está presente de alguma forma -, pela audição atenta de tudo que é som, daqui e do mundo, da troca com músicos que admiro, que respeito, seja pela originalidade, pela modernidade de suas criações, pela profundidade, pela musicalidade, pela brasilidade... e por aí vai...

A cultura regional, sobretudo a do Nordeste, em todas as suas vertentes (música, artesanato, artes plásticas, audiovisual, dança etc.) está recebendo mais atenção aqui do Sul e Sudeste? Por quê?

Juçara Marçal - Acho que já no trabalho de pesquisa do Mário de Andrade, lá atrás, essa percepção da riqueza da música que vem do Nordeste já existia.

Qual sua ascendência?

Juçara Marçal - Minha avó materna era índia. Meu avô era negro, neto de escravo. Meu avô paterno era mulato, minha avó paterna, negra sarará. Então, acho que no cômputo geral sou cafuza.

Quando surgiu esta paixão pela música regional?

Juçara Marçal - O trabalho d'A Barca foi um divisor de águas na minha vida musical. A partir do grupo, eu encontrei uma maneira diferente de entender a música, a forma de fazer música e de ouvir música. E isso passa necessariamente pela identificação com a música da cultura tradicional feita em todos os cantos do Brasil. Acho que dizer música regional reduz muito. É música do Brasil profundo. Aquele que produz, faz arte e cultura há "miliano" sem depender de jabá, de CD, de casa de espetáculo, de programador.

Qual sua dança e ritmo preferido? Por quê?

Juçara Marçal - Não tem isso. Gosto muito do Congado, por causa da minha ascendência mineira - minha família materna é toda de lá. Gosto muito do boi do Maranhão, gosto muito do coco, do samba... Ixe, não tem isso mesmo. É impossível escolher um!

Quais lugares do Nordeste você já conheceu e qual foi a experiência mais marcante de sua carreira?

Juçara Marçal - Já conheci todo o Nordeste. Também é difícil falar aqui da experiência mais marcante. Lembro agora da emoção que foi conhecer o Quilombo de Frechal, no Maranhão, e o de Caiana dos Crioulos, na Paraíba. Mas não dá para dizer que é a mais marcante da minha carreira. Tem também o dia em que fui pela primeira vez ver o Jongo de Guaratinguetá. Igualmente marcante.

Como é fazer parte de um grupo (A Barca) que rodou o Nordeste, pesquisando, registrando e propagando a música brasileira?

Juçara Marçal - O gosto pela pesquisa sempre norteou o trabalho d'A Barca, e isso foi uma das coisas que me encantou no trabalho. E obviamente a riqueza das músicas que fomos conhecendo durante os primeiros meses de encontros, ouvindo o material recolhido pelo Mário, aprendendo a tocar as partituras escritas por ele nos livros lançados depois de sua morte, com vários gêneros (cocos, bois, danças dramáticas...), e com o encontro com as comunidades que lidavam com a música da cultura popular, seus mestres e brincantes.

Você se imagina cantando em outro idioma ou abarcando culturas populares de outros países?

Juçara Marçal - Só se for em outra vida, pois nessa, só com o que já registramos de material e que já sabemos que está por ser visto e encontrado, não vai dar tempo!

Depois de Padê, seu primeiro álbum solo, qual o próximo passo em sua carreira?

Juçara Marçal - O que rola atualmente é um projeto que surgiu do Padê. Num dos shows que eu e Kiko fizemos, em vez de chamar a banda toda, resolvemos fazer só voz e violão. Mas chamamos um sax pra dar uma sonoridade diferente. E o resultado desse encontro da voz, violão e sax foi tão bacana que acabou virando um novo projeto, chamado Metá Metá. O termo iorubá significa, a grosso modo, três elementos sintetizados em um. Outro projeto surgido recentemente é o show com voz e piano, que faço com o Lincoln, d'A Barca. O nome do show é o mesmo da música que fizemos em parceria e que está gravada no Padê: Jatobá. Fizemos Jatobá - o show na Casa de Francisca, fomos para Paris e fizemos o show lá com participação do Ari Colares e do Walter Garcia, e agora vamos fazer de novo em outubro, novamente na Casa de Fran. Por enquanto é isso. E tem também o trabalho do Vésper - grupo vocal do qual eu faço parte -, que prepara show novo para estrear em breve.

Crédito: myspace.com/jucaramarcal

Como foi gravar um CD com Kiko Dinucci (foto)? Qual a importância dele na sua música?

Juçara Marçal - O CD surgiu da afinidade que rolou entre nós. Antes nunca tinha tido vontade - que durasse! - de gravar CD solo. Mas depois que fizemos o show A Toda Hora Rola Uma História eu fui gostando tanto de cantar as músicas dele e dos resultados que íamos conseguindo juntos que deu vontade de ver aquilo registrado. Daí surgiu Padê. Amo cantar as músicas do Kiko porque elas traduzem o que eu mais prezo em arte, em música: a ligação com a ancestralidade, com o Brasil ancestral, o toque do tambor, a pegada de modernidade - em todos os sentidos -, a originalidade melódica aliada à simplicidade, ainda que aparente... Coisas assim... Adoro aquelas coisas que parecem naturalíssimas, mas que têm um arranjo sofisticado, sutil, manhoso por trás... E o Kiko é mestre em fazer isso!

Sem a valorização da cultura popular e da música brasileira, nos tornamos...

Juçara Marçal - Sem graça, sem força, sem futuro...

Para ouvir Juçara Marçal no MySpace, clique aqui. E para conhecer um pouco mais sobre as pesquisas musicais d'A Barca, acesse o site oficial do grupo.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Conexões Musicais em Sampa

Rafael Sonic chega com folk desprendido e pitoresco

Crédito: Divulgação

Por Silvio Luz

Depois de se mudarem para Sampa, os cearenses da banda instrumental Fóssil logo engrenaram o projeto Conexões Musicais no Centro Cultural Popular Consolação. Nesta quinta (24/09), às 22h, eles recebem o cantor gaúcho Rafael Sonic, que conecta o seu folk à psicodelia do rock do Ceará. Para curtir o show é preciso desembolsar apenas R$ 3,00.

O cantor, compositor e multi-instrumentista de 25 anos - natural de Guaíba - começa a se destacar, amparado principalmente pela divulgação na internet, pelas letras simples que tratam da vida humilde e sossegada das pequenas cidades. Com experiência em trilhas sonoras para peças de teatro infantis, Rafael consegue transplantar esse lado lúdico para sua música direcionada ao público adulto. Sua sonoridade lembra muito o estilo do Clube da Esquina.

Pela pouca idade, alguns podem pensar que o gaúcho está começando agora. Mas não é bem assim. Rafael Sonic já assumiu a bateria na banda Stratopumas, de Porto Alegre, é convidado de honra em shows do cantor regionalista Renato Teixeira, e já abriu seu estúdio doméstico para os conterrâneos do Superguidis e do Apanhador Só. O cantor sobe ao palco acompanhado de Chico (bateria e escaleta), Leandro Cezimbra de Freitas (viola caipira e guitarra) e André Lobo-Bass (baixo).

Para ouvir algumas canções de Rafael Sonic, clique aqui. Em outubro, o gaúcho também se apresenta no Sesc Pompéia (06/10), dentro do projeto Prata da Casa, e na Livraria da Esquina (10/10).

Conexões Musicais

Responsável pelo intercâmbio entre diversas sonoridades e bandas de todo o país, o Fóssil ganha cada vez mais visibilidade no cenário instrumental com pesquisas sonoras sedimentadas no rock e no jazz. O projeto Conexões Musicais é realizado mensalmente no Centro Cultural Popular Consolação (CCPC) e já recebeu nomes como Macaco Bong (MT), Lanny Gordin (SP), O Jardim das Horas (CE), Júlia Says (PE), Porto (SP), entre outros.

Dia 24/09, às 22h.

Entrada: R$ 3,00.

Centro Cultural Popular Consolação - Rua da Consolação, 1.897; (11) 2592-3317; www.ccpc.org.br

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Guizado na Choperia

Trompete viajante agita quinta do Sesc Pompéia

Crédito: Caroline Bittencourt/Divulgação

Por Silvio Luz

O trompete de Gui Mendonça, que está à frente do grupo Guizado, é responsável pelas paisagens e ambientes sonoros para onde os ouvintes são transportados a cada acorde. Acompanhado de sintetizadores, bateria, baixo e guitarra, o trompetista apresenta seu disco Punx nesta quinta-feira (24/09), às 21h, na Choperia do Sesc Pompéia, na capital paulista. As participações especiais são Karina Buhr, Lucio Maia (Nação Zumbi) Felipe S (Mombojó) e Flora Matos MC.

O som do Guizado é baseado nas sonoridades de Sampa e mistura, com maestria, as imagens e texturas da metrópole: o cinzento e o colorido, o silencioso e o barulhento, as luzes e a escuridão, as pessoas e o vazio. Sua principal referência musical é Miles Davis, em quem se inspirou para fazer música com liberdade e visão transgressoras.

No show, além de cantar sucessos de Punx, como Maya, Vermelho, Miragem e Zonzo, o trompetista vai assumir os microfones pela primeira vez em O Marisco, uma canção inédita que provavelmente vai constar no repertório do seu próximo disco. Gui Mendonça sobe ao palco junto com Rian Batista (baixo) e Regis Damasceno (guitarra) - ambos do grupo Cidadão Instigado -, e Samuel (bateria).

Clique aqui para ouvir Guizado no MySpace.

Dia 24/09, às 21h.

Entrada: R$ 16,00 (inteira), R$ 8,00 (meia-entrada) e R$ 4,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado na rede Sesc).

Sesc Pompéia - Rua Clélia, 93; (11) 3871-7700; www.sescsp.org.br

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Arte, ciência e tecnologia

Prêmio Sergio Motta enaltece produção brasileira

Crédito: flickr.com/photos/psmotta

Por Silvio Luz

As artes, principalmente nos dias em que readaptamos ideias, conceitos e vivências, estão em constante transformação e em processo de junção com outras áreas do conhecimento. E é isso que a 8ª edição do Prêmio Sergio Motta traz à tona, ao misturar ciência, tecnologia e arte. A intenção é incentivar a produção cultural brasileira e dar visibilidade à estrondosa diversidade desse país. Os nove artistas selecionados vão receber o prêmio nos dias 3 e 4 de novembro, durante o Fórum A&T - Perspectivas Críticas em Arte e Tecnologia, em São Paulo.

O prêmio é apenas uma das ações que o Instituto Sergio Motta desenvolve há quase dez anos, fomentando a intersecção e intercâmbio entre arte, ciência e tecnologia. Desde 2000, a organização já contemplou mais de 50 artistas e distribuiu R$ 1 milhão em prêmios.

Na edição de 2009, o critério principal para selecionar Arthur Omar, Gisela Motta e Leandro Lima, Rejane Cantoni, Camila Sposati e Fernando Velázquez (foto da obra O Colecionador de Espíritos acima), Fernando Rabelo, Jarbas Jácome e Carlos Fadon Vicente foi a relevância de seus olhares críticos para os usos da tecnologia na sociedade contemporânea e a incorporação de práticas para estimular a democratização de ferramentas, além de ampliarem com suas obras as possibilidades de difusão para além do circuito consolidado.

Clique aqui para conferir os trabalhos selecionados pelo 8º Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia. Conheça também o blog e o site do Instituto Sergio Motta.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Um show de rap

Big Ben Bang Johnson: a primeira vez de um repórter

Crédito: myspace.com/bigbenbangjhonson

Por Silvio Luz

Depois de curtir a dança do jongo no penúltimo dia do Revelando São Paulo, no Parque da Água Branca, a noite reservou ainda emoções mais intensas no último sábado (19/09). Fui convidado a ir ao show do Big Ben Bang Johnson, dos Racionais Mc's, no Ginásio do Palmeiras. Não deu outra. Aceitei o convite e fui conferir um rolê diferente. A primeira vez num show de rap nacional a gente nunca esquece. Pelos comentários de amigos, já sabia que grandes caras que erguem o rap numa bandeira e o levam de coração em coração subiriam ali naquele palco. É nessas ocasiões que a periferia se reúne. É uma das oportunidades únicas. Talvez por isso me acostumei rápido ao ambiente, mesmo quando a galera da UBC (União Bate Cabeça) começaram a se 'digladiar' no meio do público. Mas é claro que também não me arrisquei a tomar umas cotoveladas. Sombra, RZO, Mano Brown, Gog, Consciência Humana. Tive a oportunidade de presenciar um grande show de rap nacional, com MC's que realmente fazem a diferença e sempre mandam mensagens de 'responsa' para a galera. Mano Brown, que entrou no palco mascarado, manteve o diálogo com o público, como sempre faz, porque sabe que o microfone é sua arma mais contundente. E os shows não tinham hora para acabar. Às 5h30 da manhã, quando me despedi do Ginásio do Palmeiras, Gog ainda lançava suas rimas e ideias para o povo da periferia.

O próximo show do Big Ben Bang Johnson acontece no Projeto Apollo (Rua Nestor Pestana, 189, próxima ao metrô República), no dia 09/10. Clique aqui para ouvir o grupo no MySpace.

sábado, 19 de setembro de 2009

Hip hop made in Brasil

Sol: Slim Rimografia lança videoclipe da música

Crédito: Daniel B.Boy 3D/Divulgação

Por Silvio Luz

Com mais de dez anos de história no cenário hip hop, o MC paulistano Slim Rimografia começou como grafiteiro, mas expandiu seu talento para os outros elementos dessa cultura, como o break dance e a música. Neste sábado (19/09), a partir das 20h, ele faz show de lançamento do videoclipe inédito da música Sol, no Espaço + Soma, em Sampa. Ele sobe ao palco junto com Thiago Beats, considerado um talento nato no beat box.

O registro em vídeo ilustra com belas imagens os versos de uma das canções mais pedidas pelo público em seus shows. Falando de injustiças sociais, amor e vida na metrópole em suas letras, o rapper costuma valorizar a música brasileira - samba, MPB, bossa nova, ritmos regionais e folclóricos -, que é acrescentada ao rap de forma espontânea e original.

Clique aqui para acessar o MySpace de Slim Rimografia.

Dia 19/09, a partir das 20h.

Entrada: R$ 10,00 (R$ 8,00 com nome na lista info@maissoma.com).

Espaço + Soma - Rua Fidalga, 98; (11) 3034-0515; maissoma.com

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Segure estas pedras!

Só Pedrada Musical: DJ e jornalista faz festa em Sampa

Crédito: myspace.com/djtamenpi

Por Silvio Luz

No ar há pouco mais de três anos, o blog Só Pedrada Musical traz seleção musical bem particular do DJ e jornalista Daniel Tamenpi, focado na música negra alternativa. Ao todo são mais de mil discos disponíveis para download, que abarca ritmos variados, como o hip-hop, soul, funk, afrobeat, jazz, reggae, além de muita música brasileira. Nesta sexta (18/09), o DJ participa de happy hour no Espaço + Soma, em Sampa, e apresenta um pouco do seu arsenal de pedradas.

Além de manter o blog, o crítico musical também escreve para as revistas + Soma, Rolling Stone e Backstage. Já conceituado no cenário alternativo carioca, mudou-se recentemente para a efervescência da capital paulista. Mas sua sede por novas descobertas faz com que não fique parado. Já visitou diversos lugares do país para apresentar suas pesquisas musicais e encher ainda mais sua bagagem sonora.

Clique aqui para ter acesso ao Só Pedrada Musical, e aqui para ouvir produções musicais de Daniel Tamenpi no MySpace.

Dia 18/09, a partir das 19h.

Entrada franca.

Espaço + Soma - Rua Fidalga, 98; (11) 3034-0515; maissoma.com

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Retrato do cotidiano

Frida vence concurso de bandas universitárias

Crédito: myspace.com/fridanet

Por Silvio Luz

Um retrato do cotidiano preenchido com um rock'n'roll melódico é a característica essencial da banda gaúcha Frida, que foi premiada com R$ 50 mil em instrumentos musicais nesta semana, após vencer a etapa brasileira do concurso de bandas universitárias U>Rock, promovido pela rede Universia. Agora, os quatro rapazes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) vão contar novamente com a colaboração dos fãs para vencer a etapa internacional e ser escolhida para tocar em Madri, no festival homônimo, entre os dias 15 e 17 de dezembro.

A banda - formada em Gravataí, em 2005, por Sandro Silveira (guitarra e vocal), Andriel Cimino (guitarra), Jero Silvello (baixo) e Leandro Chites (bateria) - deixou para trás dezenas de adversários com a música Conversas Intermináveis, que está disponível para audição no MySpace. Os vocais e os acordes da canção lembram um pouco a sonoridade paulistana do Gram. Influenciada pelo rock inglês dos anos 60 e 90, a Frida curte os grupos The Kinks, Mutantes, The Smiths, Echo & Bunnyman, Radiohead, Pavement e Travis, entre outros.

Agora que já passou pelo julgamento dos brasileiros e de uma comissão julgadora, a banda segue para a disputa internacional, que contará com grupos da Argentina, Chile, Colômbia, Espanha, México, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. A votação acontece entre 1º de outubro e 1º de novembro.

Para saber um pouco mais sobre a Frida, clique aqui.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

DJs K e Palomita

Move Your Ass: discotecagens um tanto diferentes

Crédito: Divulgação

Por Silvio Luz

Produzida e executada pelos DJs K (Ricardo Koctus, baixista do Pato Fu que se empenha na divulgação de seu primeiro disco solo) e Palomita (Paloma Parentoni, produtora e agitadora cultural em BH), a festa Move Your Ass foi criada para o lançamento do videoclipe Por Você e Ninguém Mais, em abril deste ano. Mas acabou se tornando frequente. A festa acontece uma vez por mês e os DJs residentes, K e Palomita, apresentam um set list bem diferenciado e inovador. Nesta quinta (17/09), rola a terceira edição do evento, no Velvet Club, com participação do DJ Carou.

A seleção musical de Koctus vai do jazz ao rockabilly, e passeia pelo indie-rock, doo woop, black music e lounge. Já Palomita vai ainda mais longe, ao se aventurar pelo Leste Europeu, trazendo para as pick-ups um set repleto de folk, chalga, punk cigano e fanfarra. A principal influência para um repertório tão inusitado é Gogol Bordello, grupo nova-iorquino de folk-punk.

Também empresária e performer, Paloma Parentoni quer levar a festa para outros lugares do país. Ela está animada com a boa recepção do público de Belo Horizonte e acredita que o evento tem o poder de se destacar pela inovação e originalidade, já que não tem notícia de outro set parecido executado em outros lugares do país, com exceção do próprio Gogol Bordello, que já tocou no Rio de Janeiro três vezes só este ano.

Koctus

Crédito: Divulgação

Tanto no twiter de Ricardo Koctus quanto no de Paloma Parentoni é possível encontrar o link para baixar o primeiro disco do músico mineiro. Mas é preciso correr, pois o álbum vai ficar disponível na internet por poucos dias. Na página dos dois sempre há informações atualizadas sobre shows, canções e videoclipes. Por falar em clipe, Paloma prepara um nova obra audiovisual para a cantora Roberta Campos, que lançou no ano passado seu primeiro disco, Para Aquelas Perguntas Tortas, produzido de forma totalmente independente.

Move Your Ass

Dia 17/09, às 23h.

Entrada: R$ 10,00.

Velvet Club - Rua Sergipe, 1.493, esquina com a Avenida Getúlio Vargas, BH; (31) 9741-1915; velvetclub.blogspot.com

Contatos Paloma Parentoni:
www.myspace.com/palomaparentoni
www.flickr.com/photos/palomaparentoni
www.twitter.com/palomaparentoni
Tel: (31) 8877-0412

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Dando as caras - Kartel Latino

Banda acrescenta pitada brasileira ao reggaeton

Crédito: myspace.com/kartellatino

Por Silvio Luz

O reggaeton é um estilo musical dançante que mistura reggae jamaicano com ritmos latinos, como a salsa. Uns dizem que surgiu em Porto Rico, mas tem quem acredite que o ritmo começou a ser explorado no Panamá. Mas o que importa mesmo é o suíngue, que traduz muito bem toda a saliência latino-americana. E é isso que o grupo brasileiro Kartel Latino quer trazer para as bandas de cá, acrescentando pitadas musicais daqui ao ritmo latino, cantando em português e espanhol.

Formado por cinco integrantes, dois hispânicos e três brasileiros - Kron’s (Bolívia), DJ Lokkko (Peru), Kalderon (São Paulo), Lady Jucy (Salvador) e Kaztro (Paraíba) -, o Kartel traz uma proposta diferente com um ragga mais romântico, colocando no mesmo pacote diversas influências musicais, como R&B, Rap, Samba, Bossa Nova, Forró, Salsa, Bachata, Cumbia, House e Electro Flow Latino. O primeiro single da banda é Amada Minha, que já tem videoclipe disponível no YouTube (assista abaixo).

Um dos expoentes do ritmo no Brasil, e também grande influência do Kartel Latino, é o cantor Daddy Yankee, que popularizou o ragga e estimulou o interesse dos brasileiros, que logo notaram uma leve semelhança com o funk carioca. A música Gasolina foi o seu grande sucesso, bastante tocada em todas as rádios do país.

O Kartel Latino tem um perfil no site do Olha a Minha Banda, do programa Caldeirão do Hulck, da TV Globo. Clique aqui para visualizar. No MySpace é possível conhecer um pouco mais sobre o grupo e ouvir algumas canções.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Muse - The Resistance

Sinfônico: trio inglês lança quinto álbum de estúdio

Crédito: myspace.com/muse

Por Silvio Luz

No começo de 2009 eles anunciaram a gravação de um álbum com orquestra e tudo. E cumpriram a promessa. Matthew Bellamy (voz, guitarra e piano), Christopher Wolstenholme (baixo) e Dominic Howard (bateria e percussão), do Muse, lançam nesta segunda (14/09) The Resistance, o quinto álbum de estúdio, com 11 faixas, no Reino Unido.

No entanto, há mais de uma semana os fãs já encontram facilmente o disco para download em sites alternativos na internet. A primeira audição das músicas revela um trabalho compacto e cheio de sinfonias e referências à música clássica. A alternância no andamento das canções - que leva o ouvinte para situações velozes e serenas sem avisos prévios - está mais uma vez presente, como fica explícito na impactante e densa Resistance, primeiro single do novo álbum.

Sofrendo menos

No final do disco, a tríade de Exogenesis: Symphony (Part 1 - Overture, Part 2 - Cross Pollination e Part 3 - Redemption) revela que o Muse não tem medo de arriscar e sair do lugar comum. É fato que nos álbuns anteriores já havia elementos de música clássica, mas agora ela foi explorada a fundo. Para as três canções que fecham o disco, o grupo recrutou uma orquestra com mais de 40 músicos.

Outro destaque é Undisclosed Desires, que lança mão de diversos elementos eletrônicos e resulta numa das canções mais suingadas do disco, além de trazer um vocal de Matthew mais para cima e bem menos melancólico. Como diria uma amiga: "ele está sofrendo menos nesta faixa". United States of Eurasia, que fala sobre guerras e disputas territoriais, conta com um piano destacado e lembra, de longe, a Bohemian Rhapsody, do Queen. I Belong to You/Mon Coeur S’ouvre A Ta Voix também é outra boa surpresa, já que introduz com maestria, reforçando a potência e beleza dos instrumentos de sopro, as três canções finais do disco.

Até que The Resistance seja lançando oficialmente aqui no Brasil, os internéticos podem achar links para download com uma rápida pesquisa no Google. Para acessar o MySpace do Muse, clique aqui.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Coletânea O Grito!

Noite do folk: Juliana R., Thiago Pethit e Holger

Crédito: myspace.com/lepethitprince

Por Silvio Luz

O Grito! é uma revista especializada em música lá de Recife. O coletivo Coquetel Molotov também é de lá, e além de ter uma revista própria também promove um grande festival com bandas independentes. A paulistana Agência Alavanca também garimpa estes novos artistas cheios de talento. A união dos três coletivos resulta no show da banda Holger e de Thiago Pethit (foto) e Juliana R. neste sábado (12/09), na Livraria da Esquina B, em Sampa.

O show foi organizado para o lançamento da coletânea virtual O Grito! - Ano Dois, que conta com 20 destaques da cena independente nacional, como Numismata, Stela Campos, Pata de Elefante, Romulo Fróes, Júlia Says, Nuda, entre outros. O produtor musical Jarmeson de Lima foi quem escolheu os artistas para subir ao palco da Livraria da Esquina, usando o critério da diversidade estrondosa de estilos e ritmos presente no álbum.

Folk e afrobeat

O quinteto Holger está chamando a atenção não só nos festivais nacionais, mas também lá fora. No South by Southwest, que acontece todos os anos nos Estados Unidos, a banda apresentou o seu folk apimentado com rock alternativo e afrobeat, com todos os integrantes - Pedro, Arthur, Pata, Rolla e Tché - revezando instrumentos e microfones, como já é de costume.

Thiago Pethit e Juliana R. também transitam livremente pelo folk, cantando em diversas línguas e buscando firmar suas carreiras com muita originalidade e leveza. Pethit assumiu seu lado cantor há dois anos - sempre foi ator - e já ganhou muitos olhares curiosos com o primeiro EP, Em Outro Lugar, lançado no ano passado. Juliana R., por sua vez, consegue construir climas densos e sutis com sua voz adocicada, sempre com seu violão a tira-colo.

Para fazer o download da coletânea O Grito! - Ano Dois, clique aqui.

Dia 12/09, a partir das 23h.

Entrada: R$ 10,00.

Livraria da Esquina B - Rua do Bosque, 1.254, Barra Funda; (11) 3392-3089; www.livrariadaesquina.com.br

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Cultura popular paulista

Romanço abre Festival Revelando São Paulo

Crédito: myspace.com/gruporomanco

Por Silvio Luz

Coco, boi-bumbá, ciranda, folia de reis, forró, maracatu, moda de viola, toada, caiçara, cabaçal. Esses são os elementos musicais presentes na produção do grupo Romanço, de Guarulhos, que abre o evento Revelando São Paulo, nesta sexta-feira (11/09), às 17h, no Parque da Água Branca, em São Paulo, com entrada franca. Além de valorizar a cultura popular paulista, apresentando grupos artísticos de todo o estado, o festival também traz carros de bois, charretes, manifestações religiosas, artesãos e culinaristas. A programação deste ano vai até o dia 20 de setembro.

Pesquisando e fazendo música sedimentada na cultura do nordeste, norte e sudeste, o Romanço surgiu em 2007, quando o músico e folclorista paraibano Bosco Maciel saiu arrebanhando outros instrumentistas que também tinham o desejo de valorizar a música regional. Atualmente, o grupo é formado por Ricardo Dutra (voz, viola, violão, rabeca, pífano, escaleta e saxofone), Aline Mareá (voz e percussão), Michel Machado (voz e percussão), Léo Gonçalves (voz, violão, baixo elétrico e percussão) e Adriano Sales (voz, cavaquinho e percussão).

No começo do ano passado, o Romanço teve um encontro para lá de transcendental com Ariano Suassuna, que presenteou os cinco músicos com o atual nome, e explicou: "Romanço é a denominação de todo idioma originário do latim. No Brasil, as pessoas começaram a pronunciar errado, dando origem à palavra romance, que hoje tem outros significados". Ficou interessado? Então clique aqui e confira o player de músicas do grupo no MySpace.

Revelando São Paulo

De 11 a 20/09.

Entrada franca.

Parque da Água Branca - Avenida Francisco Matarazzo, 455, próximo ao metrô Barra Funda; (11) 3865-4130; www.parqueaguabranca.sp.gov.br

Clique aqui para conferir a programação completa.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Antes de ganhar o mundo

MoMo faz show em Sampa e parte para turnê nos EUA

Crédito: myspace.com/momoproject

Por Silvio Luz

Antes de ganhar a América com suas canções sentimentais, o músico Marcelo Frota, mais conhecido como MoMo, faz um show especial neste sábado (12/09), no Espaço + Soma, em Sampa. Na despedida, o cantor e compositor vai apresentar as músicas dos seus dois discos já lançados, que têm grandes chances de cair no gosto dos norte-americanos.

Folk, rock progressivo e alguma pitada de samba fazem parte da sonoridade deste mineiro radicado no Rio de Janeiro. A suavidade e a segurança com a qual empunha o microfone faz de MoMo um intérprete sagaz e antenado com o que suas canções pedem. Delicadas e pungentes, elas estão espalhadas nos discos A Estética do Rabisco, de 2007, e Buscador, lançado no ano passado.

A banda que sobe ao palco com MoMo (guitarra e violão) aqui no Brasil - Caetano Malta (baixo, guitarra e casiotone) e Bruno Braggion (bateria) - também desembarca nos Estados Unidos para tocar no World Music Festival e fazer outras 30 apresentações em 12 estados americanos entre setembro e outubro.

Clique aqui para ouvir MoMo no MySpace.

Dia 12/09, às 20h.

Entrada: R$ 10,00.

Espaço + Soma - Rua Fidalga, 98, Vila Madalena; (11) 3034-0515; www.maissoma.com

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Entrevista - qUEbRApEdRA

Direto de BH: pássaro fictício de canto autoral

Crédito: myspace.com/rafaelmartini

Por Silvio Luz

Depois de conhecer e ouvir o som do qUEbRApEdRA, o Entrete[discer]nimento foi atrás da banda para saber um pouco mais sobre as histórias e os meandros musicais lá de Belo Horizonte. No bate-papo denso e repleto de informações musicais para quem quer conhecer um pouco mais do cenário independente de uma partezinha de nosso Brasil, o pianista Rafael Martini falou sobre a formação do grupo, MPB, cultura popular, entre outros assuntos.

Confira entrevista na íntegra:

Por quê Quebrapedra? Tem a ver com a quebra de padrões musicais?

Rafael Martini - Quebrapedra é, primeiramente, o nome de um pássaro fictício criado por Antônio Carlos Jobim. O Tom, que era ornitólogo amador, criou esse pássaro, tendo inclusive o requinte de elaborar seu canto, com duas notas num intervalo de terça menor. E a melodia desse canto aparece na obra dele em vários momentos, em músicas diversas, como um tema recorrente, e muitas vezes com uma letra, que diz justamente “Quebrapedra”. O nome do grupo tem, é claro, uma intenção de reverência ao Tom, como se com nossas músicas, estivéssemos respondendo ao canto do seu pássaro imaginário, assim como os pássaros fazem, mas com a diferença de não ser uma resposta imitativa. É uma resposta que se produz com a absorção da música do Tom e de todas as outras que nos marcam, e a criação de um novo canto, uma nova música, que passamos pra frente, como que continuando a “corrente”, uma vez que as músicas que nos influenciam, foram influenciadas por outras e assim por diante. Acho, portanto, que o nome tem a ver, sim, com a quebra de padrões musicais, mas apontando para o fato de que só se transgride o que já é conhecido, e que essa atitude transgressora já nos foi “soprada” no ouvido por outros compositores de canções, outros pássaros, num sentido metafórico, que ouviram o canto de um outro e responderam a ele com um novo e próprio canto.

Como funciona o processo de composição (letras e música)? É um esquema rígido de sentar e compor, ou as canções vão surgindo naturalmente?

Rafael Martini - As canções geralmente surgem primeiro com a música (feita por mim), mas já feita sob medida para se por letra posteriormente (pela cantora do grupo, Leonora Weissmann). É o processo inverso ao que muitos cancionistas empregam, extraindo da letra a música que há nela. É que da mesma forma que pode-se “auscultar” a melodia interna que um poema carrega, podemos extrair da música sem palavras, um texto que ela nos sugere.


O grupo acredita que está tendo sucesso na empreitada de pesquisar a fundo a música brasileira e apresentar uma sonoridade original?

Rafael Martini - Pelo menos no que diz respeito à nossa realização pessoal enquanto músicos e compositores, sim! Estamos juntos desde 2001 e começamos, como muitos grupos, tocando “covers” de muita gente da música brasileira como Egberto Gismonti, Tom Jobim, Edu Lobo e Jorge Mautner. Acho que o que podemos chamar de pesquisa é essa vivência de intérprete que tivemos durante muito tempo e hoje se mantêm na interpretação de canções de novos compositores, companheiros de cena aqui em BH, como Antonio Loureiro, Felipe José e Kristoff Silva. No fim das contas, vivenciar tantas canções diferentes e notar as diversas maneiras de se fazer uma canção foi o que nos moveu a fazer as nossas.

Quais as principais influências do Quebrapedra e como elas se traduzem na música produzida por vocês?

Rafael Martini - Acho que as principais influências do grupo estão na música brasileira, cantada e instrumental, e vão desde referências gerais, como Milton Nascimento e Hermeto Pascoal, até experiências menos populares como as do Grupo Rumo e do André Mehmari. Mas há também a forte presença da música instrumental contemporânea feita por grupos como The Bad Plus, do Rock e Pop de várias épocas, de Radiohead à Genesis, além da inspiração vinda da música erudita e da cultura popular. Essas influências chegam à nossa música de maneira não-premeditada e natural, resultado das relações que são criadas entre elas, creio, dentro do nosso imaginário sonoro, onde se encontra tudo o que nos influencia.

A cultura popular brasileira está sendo mais valorizada na música produzida atualmente? A galera nova que está surgindo está mais sintonizada nessa valorização das raízes?

Rafael Martini - A cultura popular brasileira sempre foi a matriz de boa parte da chamada MPB. Por conseguinte, ela acaba influenciando, mesmo que de maneira indireta, a música feita até hoje no Brasil. Alguns músicos reconhecem essa influência e procuram conhecer mais a fundo as origens disso tudo, o que é o caso de muita gente nova. Paradoxalmente, acredito que essa “volta às raízes” funciona como um grande impulso pra criação de coisas inovadoras e originais, é uma consciência que tentamos sempre exercitar no Quebrapedra e que enxergamos na música de gente como Antonio Loureiro, Benjamin Taubkin e Gabriel Grossi.

Como está a divulgação do primeiro disco de vocês? A recepção do público é boa?

Rafael Martini - Estamos usando bastante a internet por meio de blogs, MySpace e YouTube para divulgar o disco. Fizemos shows de lançamento em BH e estamos viabilizando o lançamento em outras cidades do país. A recepção do público é boa, sim! Tem muita gente antenada nos trabalhos de grupos, cantores e cantoras que estão mostrando músicas e concepções novas. Aqui em BH, o volume de músicos fazendo música autoral vem aumentando muito e, junto com o volume, a qualidade da produção.

Quando pretendem vir para Sampa apresentar o trabalho autoral de vocês?

Rafael Martini - O mais rápido possível! Talvez agregado ao lançamento de discos novos de companheiros daqui. Já, já...

O que está no repeat no seu aparelho de música agora?

Rafael Martini - Quase em Silêncio, o recente e primeiro disco de Rafael Macedo, e Pulando o Vitrô.

Sem a música, o mundo seria...

Rafael Martini - Nossa...! Inumano, imagino...

Você acha que a Música Popular Brasileira está muito diluída nas vozes de cantoras que se parecem muito entre si?

Rafael Martini - Um dia desses ouvi a Leny Andrade dizendo que depois da Marisa Monte, ela só viu surgir “um monte de 'Marisinhas'”. Concordo com ela, mas acho que essa diluição que você diz está mais na pausterização das composições, uma vez que a maioria das cantoras não compõem ou não escolhem seu repertório com uma atitude autoral. Mas isso acontece pricipalmente no mainstream da MPB e do Pop, nas novelas, etc... Se voltarmos nossos ouvidos para cantoras de muita personalidade e menos reconhecimento como Fabiana Cozza, Ana Luisa, Mônica Salmaso, Dani Gurgel e Leopoldina, vemos que para se ouvir música inventiva e viva, não se pode mais esperar que ela seja apresentada pelo rádio ou TV. Acho que é isso que causa a sensação em muitas pessoas de que “nada mais de novo é produzido na MPB desde a década de 70”.


Para ouvir canções do qUEbRApEdRA, clique aqui.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Inovação mineira

qUEbRApEdRA faz música com cheiro de terra

Crédito: ChristinaR/Divulgação

Por Silvio Luz

As canções do qUEbRApEdRA, grupo mineiro formado em 2001, têm cheiro de terra, de chuva, de seca, de sertão. O instrumental transcende o seu próprio gênero ao som suave da voz de Leonora Weissmann e dos arranjos que denotam a pesquisa e o interesse pela música brasileira produzida atualmente, sem dar ouvidos a cronologias engessadas e padrões arrastados.

A banda - formada também por Rafael Martini (piano e voz), Pedro Maglioni (baixo), Mateus Oliveira (vibrafone e percussão) e Edson Fernando (bateria e percussão) - tem tocado por algumas casas de shows de Belo Horizonte e do interior do estado, como o Palácio das Artes e a Festa da Música 2008.

Com o lançamento do primeiro disco, o qUEbRApEdRA apresenta uma safra de canções próprias e reforça o poder de intérprete, ao cantar canções de compositores como Kristoff Silva, Felipe José e Renato Motha. Firmamento, que fecha o álbum, tem todo um clima que mistura doçura e azedume, altos e baixos, espinhos e alívios, tanto na letra quanto na sonoridade.

Para ouvir e conhecer mais sobre a banda mineira, clique aqui.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Rock com maracatu

Ortinho prepara novo disco e toca no Conexão PE

Crédito: Edouard Fraipont/Divulgação

Por Silvio Luz

Ortinho é um músico pernambucano moldado no rock'n'roll da banda Querosene Jacaré em pleno movimento manguebeat. Influenciado e parceiro de Chico Science, Otto, Junio Barreto, entre outros, ele acrescentou mais elementos à sua sonoridade e passou a construir sua carreira solo desde 2002. Seu novo disco, Antes Que Eu Me Esqueça, está em fase de pré-produção em Recife, e conta com participações de Arnaldo Antunes, Marcelo Jeneci, além de composições próprias.

Enquanto o novo álbum não fica pronto, o caruaruense desembarca em Sampa no próximo dia 18 para tocar no Conexão PE músicas já conhecidas e também canções inéditas, como Moldura, Pense Duas Vezes Antes de Esquecer (Ortinho/Arnaldo Antunes/Marcelo Jeneci) e Luz e Sombra (Ortinho). O festival também recebe Nação Zumbi, tocando Da Lama ao Caos na íntegra, e o trompetista Guizado, apresentando o seu disco Punx e outras novidades.

Na música de Ortinho ainda se percebe uma ou outra veia roqueira, mas o resultado final revela, na verdade, a busca pelas tradições pernambucanas, festejando o côco, a ciranda, o forró, o maracatu e o samba. Entre os destaques das canções disponíveis no MySpace do compositor está Procurando Dun Dun, um samba saliente e solto.

Dia 18/09, às 21h.

Ingressos: de R$ 40,00 (pista) a R$ 110,00 (camarote).

Citibank Hall - Alameda dos Jamaris, 213, Moema; (11) 2846-6040; www.citibankhall.com.br

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Uma Assumpção em Sampa

Anelis canta músicas inéditas ao lado de Céu e Thalma

Crédito: myspace.com/anelisassumpcao

Por Silvio Luz

Ser filha de Itamar Assumpção poderia bastar para ela. Mas não bastou. Anelis Assumpção procurou a sua essência musical como cantora, percussionista e compositora e lança em 2010 o seu primeiro disco. Neste domingo (06/09), no Auditório Ibirapuera, em Sampa, ela antecipa canções inéditas e convida Céu e Thalma de Freitas para uma participação bem especial.

Integrante do DonaZica, Anelis se dedica, desde 2007, ao seu trabalho solo. Na Virada Cultural de 2009 foi destaque do palco Santa Efigênia, que apresentou artistas do circuito independente. O estilo da cantora vai do samba ao reggae e do hip hop à vanguarda paulistana - nome dado à música feita por Itamar e parceiros como Arrigo Barnabé, que dificilmente pode ser incluída em estilos musicais fechados.

Além das participações de Céu e Thalma, Anelis subirá ao palco acompanhada de sua banda, formada por Bruno Buarque (bateria), Cris Scabello (guitarra), Maurício Pregnollato (baixo) - integrantes da banda de reggae Rockers Control -, Lelena Anhaia (cavaco, violão, viola e bandolim) e Simone Sou (bateria).

Para ouvir Anelis Assumpção no MySpace, clique aqui. Um dos destaques do player de música é Sonhando, composta por Karina Bhur, que tem introdução com os naipes de sopro e percussão incrível, com uma levada reggae e malemolente.

Dia 06/09, às 19h.

Entrada: R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia-entrada).

Auditório Ibirapuera - Avenida Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 2 do Parque do Ibirapuera; (11) 3629-1014; www.auditorioibirapuera.com.br

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Festival para universitários

U>Rock: votação está com horas contadas

Crédito: myspace.com/rafaelbarbedo

Por Silvio Luz

Montar uma banda e sair por aí se divertindo e fazendo música é o desejo de muitos jovens universitários. Agora, eles podem finalmente receber aquele empurrãozinho para deslanchar suas carreiras. O festival U>Rock, primeiro concurso ibero-americano de bandas universitárias, está sendo produzido pela rede Universia e terá as votações encerradas no dia 10 de setembro, para a etapa nacional.

A fase internacional vai do dia 15 de outubro a 15 de novembro, e vai presentear o grupo vencedor com uma viagem para Barcelona, na Espanha. Já a etapa brasileira vai premiar o primeiro colocado com R$ 50 mil em instrumentos musicais.

Entre os destaques do rock e do pop-rock estão os grupos Graveola e o Lixo Polifônico (Minas Gerais), Rafael Barbedo (Rio de Janeiro - foto), Chévere (Minas Gerais) e Zero Calibre (Rio de Janeiro). Muitos outros inscritos são bem descartáveis, pois ainda não estão prontos para botar as caras e encarar um público minimamente exigente.

Clique aqui para acessar a página de votação do U>Rock.

Barbatuques e A Barca

Prata da Casa: percussão corporal e ritmos regionais

Crédito: Edu Marin/Divulgação

Por Silvio Luz

No último domingo (30/08), o Sesc Pompéia fechou a programação de 10 anos do projeto Prata da Casa em grande estilo: Barbatuques e A Barca (foto). O primeiro entrou no palco do teatro às 18h e fez um show impecável, colocando o público para participar e criar novas obras de percussão corporal. A apresentação do grupo deixa qualquer um boquiaberto, por causa do virtuosismo na produção de música com palmas, sussurros, estalos e sapateado.

Antes de A Barca, que também tem Marcelo Pretto entre os integrantes, iniciar o show, o público pôde conferir a participação do violonista Chico Saraiva, um dos primeiros a participar do Prata da Casa, em 1999. Em seguida, os ritmos regionais do grupo paulistano tomaram conta do espaço, criando climas e sensações enraizados na cultura popular. As vozes de Juçara Marçal e Pretto se completam com uma sutileza surpreendente, acompanhadas por piano, percussão, baixo, saxofone, rabeca e violão.

Por fim, a banda, junto com o Barbatuques, convidou o público a subir ao palco e formar uma grande roda de jongo, produzindo um espaço diverso para festejar e homenagear a dança e suas cantigas, tão intimamente ligadas às nossas raízes africanas.