segunda-feira, 25 de maio de 2009

Brasil e Cuba, que tal?

Entrevista
Yaniel Matos e Max de Castro: parceria saliente

Crédito: Divulgação

Por Silvio Luz

Um pianista cubano mais um cantor e compositor brasileiro é igual a um espetáculo cheio de suíngue e vivacidade, características comuns a estes dois povos. A apresentação especial e única de Yaniel Matos e Max de Castro acontece nesta sexta-feira (29/05), no Tom Jazz, em São Paulo. Para o repertório, os músicos selecionaram canções representativas da cultura dos dois países e também músicas autorais e inéditas, compostas por eles especialmente para este projeto cubano-brasileiro.

Depois de se conhecerem em Havana, durante um festival, Yaniel e Max perceberam que uma parceria futura não iria nada mal. O primeiro trilhou importante caminho na música instrumental cubana e já tocou ao lado até do Buena Vista Social Clube; hoje, mora em São Paulo, já acompanhou por dois anos o baiano Carlinhos Brown e lançou o primeiro disco da carreira independente ao lado da banda Mani Padme Trio. Max, por sua vez, já venceu por duas vezes o APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), apareceu na capa da revista Time como uma das boas novidades da música global e atualmente prepara um novo álbum para suceder Balanço das Horas, de 2006.

O show caliente no Tom Jazz é uma preparação para o DVD que será gravado no segundo semestre deste ano, em Havana. Assim como na apresentação desta sexta, o registro em vídeo também vai ser recheado com canções como Cuestra Abajo, Deixa Eu Te Amar, Vou Festejar, Samba Raro, A História da Morena Nua e Vacaciones, além das inéditas Marilu, Oh Margot e Rumba.

Bate-papo

Na entrevista abaixo, as mesmas perguntas foram feitas para Yaniel e Max, separadamente. Destaque para o comentário do músico brasileiro sobre o documentário Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei. "Os mecanismos que julgam quem deve ficar ou não [na crista da onda do sucesso] são pra lá de nebulosos. Não posso deixar de comentar sobre o inesperado sucesso e interesse em relação ao filme que narra a trajetória do meu pai, Wilson Simonal". Confira o bate-papo na íntegra:

Como foi o encontro entre vocês dois e a ideia de fazer um show juntos?

Yaniel Matos - Eu conheci o Max em 1999, em Havana, no Festival Del Son Benny More. Na ocasião, eu tocava com o cantor Isaac Delgado, presidente do festival. Max se apresentou com o Projeto Artistas Reunidos e conheci toda a galera. Um ano depois, eu me mudei para São Paulo e passamos a nos encontrar com mais frequência. No ano passado começamos a experimentar novas sonoridades e resolvemos compor. E veio a ideia de fazermos um show com essas novas composições.

Max de Castro - Conheci Yaniel em Havana, Cuba, quando lá estive para me apresentar no festival Benny More. Depois reencontrei com ele aqui em São Paulo e toda vez que nos encontrávamos, falávamos da possibilidade de fazer algo juntos. Um dia tomei a iniciativa de arrumar um show e liguei pra ver se ele topava. E assim nasceu este projeto.

Qual a principal semelhança entre as sonoridades cubanas e brasileiras? Apesar de serem diferentes, os dois países se aproximam pela saliência latina?

Yaniel Matos - As duas culturas foram extremamente influenciadas pela cultura africana, em especial na música. O ritmo, as melodias e a simpatia desses dois povos os fazem semelhantes. Realmente são países bem diferentes, mas que, como todos os países latinos, temos uma alegria contagiante.

Max de Castro - A música brasileira e a cubana, na realidade, são completamente diferentes. Elas dividem os mesmos adjetivos como sofisticada, fácil de ouvir mas difícil de tocar, alegre, rica ritmicamente etc. Mas, na prática, tem pouca coisa parecida. A origem dos povos destes países é muito diferente também. A única semelhança forte, por mais incrível que pareça, é a influência da música americana. Em Cuba, essa influência transportou do tres [instrumento do folclore cubano] para o piano a melodia em forma de ostinato [frase musical repetida persistentemente], que é tão marcante na música cubana. Já no Brasil, o conceito de jazzband foi incorporado na cena musical da época. Um exemplo: o conjunto Oito Batutas, do jovem Pixinguinha, era uma jazzband.

Além de canções compostas exclusivamente para o show, reservam mais alguma surpresa?

Yaniel Matos - As surpresas vêm com o toque cubano nas músicas brasileiras e o toque brasileiro nas músicas cubanas que pretendemos tocar. Isso ocorre naturalmente, pelo fato de a banda ser composta por músicos de cada país.

Max de Castro - Inicialmente, a ideia era tocar clássicos da música cubana e brasileira. Só que a nossa parceria se concretizou a ponto do show hoje em dia ser 95% autoral: músicas compostas por nós, especialmente para esse show, mas carregadas na bagagem e no conhecimento que temos sobre os respectivos cancioneiros.

Qual sua missão com a música?

Yaniel Matos - Pretendo com minha música entreter as pessoas, conseguir emocionar a quem ouve, alcançar o maior número de pessoas em todo o mundo.

Max de Castro - Sinceramente não tenho nenhuma missão. Me considero um operário da música. A música é a minha profissão e procuro me dedicar ao máximo e fazer este trabalho da melhor maneira possível.

Fale sobre a produção musical como um todo em Cuba. Está surpreso com o que vê e escuta?

Yaniel Matos - A produção musical em Cuba nunca deixou de ser criativa e competente. Por não ter que se preocupar tanto com a venda, as pessoas se dão a liberdade de serem ainda mais criativas e autênticas. Me surpreendi ultimamente com algumas letras, que estão bastante ousadas, principalmente com relação ao sistema político.

Max de Castro - No Brasil, em toda época, sempre houve coisas boas rolando. Agora não seria diferente. A grande diferença de hoje são os meios que as pessoas dispõem para divulgar o seu trabalho. Destacaria Luisa Maita, nova cantora e compositora de MPB que desponta na cena paulista, o pianista pernambucano Vitor Araújo, o grupo de rock carioca Do Amor, o cantor, compositor e guitarrista paulista Walmir Borges e a fantástica big band baiana Orkestra Rumpillez, do maestro Letieres.

Qual música, disco, artista ou banda não sai de seu aparelho de música atualmente?

Yaniel Matos - Costumo ouvir todo tipo de música. Encontro novidades em pesquisas na internet, e ultimamente tenho ouvido os cubanos que se encontram em distintos países, como Alain Pérez (Paco de Lucia), Ivan Melon Lewis (pianista de Concha Buika), Dafnis Prieto (Michel Camilo), e Carlinhos Brown, Sara Tavares, Robert Glasper, Moby e muitos mais.

Max de Castro - O álbum Headless Heroes of the Apocalypse, de Eugene McDaniels, o Bob Dylan negro.

Qual artista vivo ainda não alcançou o merecido reconhecimento, seja por parte do público ou da mídia?

Yaniel Matos - Yaniel Matos e Max de Castro.

Max de Castro - Muitos. Os mecanismos que julgam quem deve ficar ou não são pra lá de nebulosos. Mas não posso deixar de comentar que o inesperado sucesso e interesse sobre o filme Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei, que narra a trajetória do meu pai, Wilson Simonal, vai fundo nesta questão levantada por você.

Max (guitarra e voz) e Yaniel (piano e voz) sobem ao palco do Tom Jazz acompanhados por uma banda mista de músicos brasileiros (Samuel Fraga, na bateria, e Robinho, no baixo) e cubanos (Eduardo Espasande, na percussão, e Luis Cabrera, nos sopros).

Dia 29/05, às 22h.

Ingressos: R$ 50,00.

Tom Jazz - Av. Angélica, 2.331; (11) 3255-0084; www.tomjazz.com.br

3 comentários:

  1. adorei! mandou muitíssimo bem.

    agora, vc precisa conhecer e entrevistar as lindas meninas do samba de rainha.

    gato, com aquele grupo, o samba jamais morrerá, vai por mim... rsss.

    bjos.,

    ju

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  2. muito boa a entrevista mesmo...
    queria deixar uma sugestão
    escute o trabalho deste pianista
    www.rodrigoandreiuk.com
    o cara é foda!
    acho que vai gostar
    valeu!

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  3. Nem mais, a fusão de um pianista cubano com um cantor e compositor brasileiro só pode dar mesmo um espetáculo cheio de suíngue e vivacidade. Verdade também que essas são características comuns aos dois povos. É incrível, um dia me dediquei a estudar a fundo os nomes maiores da música de Cuba e fiquei impressionadíssimo... Um nome leva a outro que, por sua vez, leva a outro e outro mais. É nessa altura que eu dou valor a quem se dedica a separar o essencial do acessório nas músicas de todo o mundo. É um trabalho valiosíssimo e nem sempre devidamente reconhecido! Mas é o exemplo desse site de rádios aí: http://cotonete.clix.pt/ é meu bookmark favorito para ouvir música de todos os estilos! Dá logo uma saltada lá!

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