terça-feira, 27 de outubro de 2009

Mamelo Sound System

Sexta Sonora: show mistura hip-hop, dub e jazz

Crédito: Divulgação

Por Silvio Luz

Com rimas fortes e contestadoras, o hip hop do Mamelo Sound System também abre novos horizontes para o gênero. Rodrigo Brandão e Lurdez da Luz, acompanhados dos instrumentistas Prof. M. Stereo e DJ PG, também passeiam pelo dub jamaicano e pelo jazz. O grupo se apresenta nesta sexta (30/10), às 20h, no Centro Cultrural da Juventude, em Sampa, dentro da programação do Sexta Sonora e Outubro Independente. A entrada é gratuita.

O nome Mamelo Sound System é uma referência aos grupos que animavam festas e bailes na Jamaica, e o primeiro disco, homônimo, saiu em 2000 com participações bem especiais, como Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Paula Lima, DJ Marky, a dupla Thaíde & DJ Hum e o MC Rappin’ Hood. Em 2006, a banda lançou outro álbum, o Velha-Guarda 22.

Na entrevista abaixo, concedida a este repórter no começo do ano, Rodrigo Brandão fala sobre o papel do grupo no cenário musical brasileiro, letras conscientizadoras, parcerias, entre outros assuntos.

Qual o papel do Mamelo Sound System no hip hop brasileiro? Em matéria de som, muitas vezes aqui no Brasil costuma-se valorizar mais o hip hop que vem de fora do que o tupiniquim, não?

Rodrigo Brandão - Nosso papel é transformador, porque muita gente que não ouvia rap nenhum passa a ter um contato amistoso com o gênero depois de entrar em sintonia com a nossa música. Sobre a valorização maior dos gringos perante os nativos é real, mas se explica: realmente é bizarra a diferença. Para cada disco bom de rap que sai aqui, lá são 100 ou mais - tão bons ou melhores que os daqui. Fora isso, tem um bloqueio surdo, porque é raro encontrar espaço na mídia em geral pro hip hop daqui. Realmente se trata de uma forma de arte que caminha aos trancos e barrancos, mas estamos aí para criar novas realidades.

Vocês já fizeram parcerias com diversos músicos brasileiros. Ainda falta alguém com quem gostariam de trabalhar, compor uma música ou fazer um show juntos?

Rodrigo Brandão - Podicrê. Parafraseando o Rei, "são tantas emoções" que a gente já teve a bênção de saborear que, principalmente, nos dias cinza elas nos ajudam a seguir em frente. A maioria das pessoas que admiro já fez som com a gente, de Hurtmold a Céu, passando pelo Akin, Espião, a rapa da Nação Zumbi sempre, só para citar os mais próximos. E mesmo assim a lista de músicos com quem sonhamos compartilhar palco e/ou estúdio é grande demais para citar aqui, mas posso falar de alguns, como Flora Purim, Martinho Da Vila, Wilson Das Neves, Bebeto (Tamba Trio), Siba, Alessandra Leão, Sanny Pitbull, Dom Salvador, Hermeto Paschoal e o Mano Brown.

As letras do grupo falam sobre conflitos, cidade grande, injustiças, só para ficar em alguns exemplos. Qual o principal objetivo de vocês com as composições? De quem são as letras?

Rodrigo Brandão - As letras são sempre escritas pela Lurdez e eu, mas às vezes rola de algum convidado também entrar com um verso. Zulu/Zumbi, por exemplo, foi assim. O Jorge Du Peixe escreveu a parte dele toda. E o nosso objetivo é injetar imagens que destoam do padrão consumista e corporativista vigente e que bomba na cabeça da população continuamente. Mas fazer isso de modo divertido, não como uma palestra, aula ou pregação. A busca é a elevação, a evolução espiritual, mas como diz um som antigo do Zero Quatro, "eu só poderia crer num Deus que dançasse". Então é como diz o refrão: "festa pelo direito de luta/luta pelo direito de festa". Beastie Boys e Public Enemy em mash-up pós-Matrix.
Qual a melhor definição para o afro-futurismo que vocês produzem? Seria uma espécie de vanguarda da música hip-hop que exalta as raízes africanas?

Rodrigo Brandão - Para mim tem a ver com o uso dos tambores, orgânicos e sintéticos, como fundação para um som de raízes profundas e antenas potentes, cuja alquimia sempre contém ingredientes psicodélicos. Tipo dançar break nos anéis de Saturno ouvindo um loop tridimensional do mais formoso ponto de macumba.
Aproveitando a pergunta, qual a importância de se valorizar a cultura e a música africanas e contribuir com uma parcela para o conhecimento de nossas principais influências?

Rodrigo Brandão - É aquela coisa que os ancestrais diziam sobre "aquele que não sabe de onde vem, não sabe para onde ir". E eu vou com Jorge Ben, o negócio é África-Brasil na cabeça!

Para ouvir músicas do Mamelo Sound System, acesse a página oficial do MySpace.

Dia 30/10, às 20h.

Entrada franca.

Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso - Av. Deputado Emílio Carlos, 3.641 (ao lado do terminal Cachoeirinha); (11) 3984-2466; escuta.estudiolivre.org

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